domingo, 7 de outubro de 2007

O Decrescimento?

O decrescimento é um slogan. É tambem um conceito que nos obriga a todos a tomar consciência dos limites fisicos do planeta aos quais nós nos confrontamos. Ele obriga-nos a pôr em causa a nossa noção de conforto, de necessidade.

O decrescimento não é uma ideologia, é uma necessidade absoluta: depois de dois séculos, o colonialismo, a revolução industrial, o urbanismo, o recurso ás energias fosséis, o desenvolvimento frenético e a utilização da quimica, da fisica e da biologia, aceleraram consideravelmente os danos cometidos ao meio natural. Mas foi sobretudo depois da segunda guerra mundial que os problemas de ordem ecológica tomam uma escala planetária. A ajuda ao “desenvolvimento” dos países pobres vem justificar um crescimento económico cada vez mais forte e faz nascer a “sociedade de consumo”.

Todo o acto de consumo é um acto de destruição: a extração de energia e de matérias primas, à partida; acumulação de lixo, à chegada. As contas feitas á ecologia são catastróficas: mudanças climáticas, desflorestação, desaparecimento das águas doces, degradação dos solos, perda da biodiversidade, poluição quimica, nuclear, acumulação de residuos, esgotamento dos recursos não renováveis. O crescimento, indispensável á sobrevivência do capitalismo, conduz-nos a um impasse. Só o decrescimento, ou seja a adopção de modos de vida, de habitação, de transporte, de consumo muito mais económicos em recursos naturais, podem abrir novas perspectivas.

Mas o decrescimento não se limita aos aspectos ecológicos. É igualmente uma reflecção sobre o aspecto económico e social da produção, do consumo e da distribuição das riquezas, tal como uma crítica da ideoloia do progresso, da industrialização das técnicas e do cientismo.

O decrescimento não será o «retorno à luz da vela», esse bicho papão que alguns proclamam para salvaguardar o lucro capitalista. Ele será, pelo contrário, a ocasião de tomar consciência que a felicidade não se mede por volume e produção, que é mudança dos valores humanos essenciais (respeito, tolerância, solidariedade), a perda do sentido (quer no trabalho quer na vida em geral) que nos leva à bulimia do consumo de bens materais. Ele pode ser, para o homem, a oportunidade a não perder de construir uma outra sociedade, de desenvolver práticas e experiências baseadas na autonomia, na creatividade, na solidariedade e na convivialidade.

O decrescimento é também ir contra, desde hoje, ao sistema capitalista, industrial e espectacular. É um grão de areia na engrenagem da mega- máquina. Um grão de areia entre tantos outros, de forma a dar cabo deste sistema, minimizando a violência. O decrescimento, não é apenas um conceito, é também e sobretudo práticas a adoptar, aqui e agora: viver de outra forma (squats, ecoaldeias...), produzir de outra forma, consumir de outra maneira, etc. O máximo de vias que podemos seguir concretamente hoje sem chegar a uma hipotética «greve geral». Mas atenção, em separado, cada uma dessas práticas isoladas podem ser recuperadas pelo sistema, tanto como o isolamento destas experiências e alternativas podem levar ás rasteiras das comunidades sectárias e utópicas. Para evitar esse perigos a crítica anti-capitalista, anti-industrial e anti-autoritária como do feudalismo é necessária.

Como o decrescimento é uma necessidade cada vez mais urgente, a escolha não é entre o decrescimento ou o crescimento, mas entre uma sociedade libertária onde a população pratica em harmonia o decrescimento ou uma sociedade onde medidas draconianas serão impostas por governos autoritários!

Construemos um outro presente! Grupo Marée Noire

Editorial de Pétroleur nº 5, revista do grupo Marée Noire, Abril 2005

6 comentários:

mangerico disse...

Entao e nao beber agua? Ja agora, como a agua potavel e um recurso que esta a diminuir consideravelmente, nao deviamos tambem deixar de usar agua para tomar banho, cozinhar e mesmo beber? Ha que ser consistente com estas coisas! As medidas draconianas de uns so sao ultrapassadas pelas daqueles que procuram a sua propria versao do regresso ao paraiso... Uma pergunta, o que fazer quanto ao crescimento populacional que continua a ser a principal causa da diminuicao dos recursos terrestres? Matam-se uns bilioes? De chineses e americanos talvez? Mas que palhacada...

Joana disse...

Não leves a mal, mas tu não vens de Bruxelas para Lisboa de carroça, pois não?
Joana

Ana Loichot disse...

Não vou de carroça, mas posso muito bem ir de comboio. E se tiver muito tempo posso ir a pé ou de bicicleta. É tudo ua questão de escolha.
Ana

Ana Loichot disse...

Miguel,
Sim deixar de tomar duches de meia hora é essencial. Aqui ninguem disse que deves deixar as coisas essenciais (como beber água ou alimentar-te). A questão está em discernir o que é essencial, o que realmente necessitas. Se tiveres tempo para apronfudares estas questões vais ver que não é esse bicho papão que estas a imaginar. Tens medo de deixar o material, compreendo, tudo à tua volta te diz que o PIB, os bens e o dinheiro que fazem a felicidade. Já agora, se deixarmos de explorar o planeta desmesuradamente não é preciso matar os chineses e os americanos, se continuarmos nesta maluqueira é bastante provavel que os teus netos não vejam a luz do dia.

Joana disse...

Podias vir de comboio, a pé ou de bicicleta mas... não vens. Vens de avião. É tudo uma questão de escolha.
Joana

Ana Loichot disse...

Por acaso até ja fui e vim vrias vezes de comboio, a ultima vez fui sim de avião porque a minha irmã me quis fazer esse presente (e eu não sou mal agradecida).
Já agora, as mudanças no estilo de vida têm de ser progressivas senão o mais certo é voltar num instantinho ao hábito.