quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Desenvolvimento e Africa



Entrevista a Serge Latouche – Decrescimento e África, Fevereiro 2008, Fernanda Silva e Mario Carini

No que respeita o decrescimento, o problema em África é paradoxal. Porque de um certo ponto de vista, a ideia, o "modelo" de decrescimento, nasceu em África, nos anos 70, 80, porque a África conheceu o desenvolvimento e o desenvolvimento destruiu a África.

O desenvolvimento económico destruiu as estruturas tradicionais, os saberes-fazer, os valores, etc. E os africanos viram-se obrigados a sobreviver ao desenvolvimento: inventaram uma forma de se auto-organizar na precariedade, mas que funcionou bastante bem e que eu analisei, nos meus livros, principalmente na "L'Altra África, tra dono e mercato": a arte de se auto-organizar e substituir os bens pelas relações sociais, pelas estruturas grupais, etc.

Ora, a chamada globalização é uma ameaça terrível para esta Outra África e falar de decrescimento em África é muito perigoso, muito difícil. Porque os africanos querem ir para a Europa, porque o imaginário colonizado dos media, a ofensiva dos media é aterrorizadora.

Há vinte anos, não havia televisão nas aldeias, na cidade sim, mas nas aldeias não. Agora todos têm um telemóvel, mesmo que não funcione bem, e querem ser totalmente ocidentalizados e muitos já o são.

Portanto, a batalha, a resistência para sobreviver, a auto-organização, que mesmo na precariedade é capaz de dar prazer de viver, é ameaçada pela globalização, pela colonização do imaginário e também pelo facto de o imperialismo e a procura de matérias-primas, criarem guerras civis e toda uma instabilidade politica que provoca dificuldades.

Assim, estamos numa situação paradoxal, em que temos muito que aprender, sobre a capacidade dos africanos de se auto-organizar através dos bens relacionais, e ao mesmo tempo, é difícil convencer os africanos de que têm valores, de que têm formas de preservar, que são já um modelo de pós-modernidade, e que quando nós estaremos na grande crise, na crise ecológica, social e económica, serão mais capazes do que nós de encontrar soluções.



A proposito do ddevenvolvimento em Africa pode-se ver tambem a entrevista a Jean Leonard Touadi, dobrada em portugues por Fernanda Silva (Obrigada Fernanda!)
Entrevista a Touadi

Um comentário:

Anônimo disse...

quem é a Fernanda Silva que faz a tradução???