quarta-feira, 16 de julho de 2014

Um mundo para lá do crescimento económico - conferência internacional em Leipzig


Centenas de pessoas vão juntar-se na Alemanha com o objectivo de pôr fim ao dogma do crescimento económico. Propõem o decrescimento como solução para a catástrofe ambiental e as desigualdade sociais. Uma redução voluntária da produção e do consumo – para maximizar a felicidade e o bem-estar

http://leipzig.degrowth.org/en/


“Agora apostamos tudo no crescimento económico", declarava Passos Coelho no início do mês. “Cinco medidas para promover o crescimento económico”, apresentava em resposta o PS. “A prioridade é o crescimento económico”, anunciava há meses Jean-Claude Juncker na candidatura à presidência da Comissão Europeia.

E se, mais do que para indicadores económicos, olhássemos para os recursos do planeta? E se, em vez de aumento do PIB e de produtividade, falássemos de bem-estar e de necessidades reais das pessoas? E se, em vez de crescimento económico, escolhêssemos o decrescimento?

É o que propõem economistas, cientistas e ativistas de todo o mundo que se vão juntar para a “4ª conferência internacional sobre decrescimento, pela sustentabilidade ecológica e equidade social”. De 2 a 6 de setembro, em Leipzig, na Alemanha, querem estabelecer passos concretos para uma sociedade para lá do imperativo do crescimento económico.

O decrescimento é “uma diminuição da produção e do consumo nos países industrializados, que aumente o bem estar humano e promova as condições ecológicas e a equidade no planeta”, explicam os organizadores. “Queremos uma sociedade na qual os seres humanos vivam dentro dos limites ecológicos. Em que a acumulação material não tenha uma posição central no imaginário da população.”

A proposta é uma mudança drástica nos pressupostos económicos desde a Revolução Industrial. Serge Latouche, economista francês e uma das figuras do decrescimento, afirma que “a doutrina do crescimento económico é como uma doença e uma droga. Precisamos de uma desintoxicação colectiva.”

“Todas as sociedades procuram produzir, e eventualmente crescer, para satisfazer as necessidades das populações. A nossa não: procura crescer por crescer. Porque é crescendo que consegue aquilo que está na base do nosso sistema: os lucros”, afirmava Latouche numa conferência em Lisboa, em março de 2012. “O crescimento pelo crescimento implica criar um crescimento ilimitado das necessidades das pessoas. É para isso que servem a publicidade e o marketing. Mas um crescimento ilimitado do consumo e da produção gera também um crescimento ilimitado de resíduos e poluição. Vivemos num planeta finito, que é incompatível com um crescimento infinito. Estamos portanto a caminhar para o desastre.”

Pico do petróleo, acidificação dos oceanos, alterações climáticas, erosão dos solos, perda de biodiversidade, escassez de água potável... Hoje torna-se impossível esconder quanto a actividade humana vem destruindo o equilíbrio que permite a nossa própria vida no planeta. E se por um lado se esgotam os recursos vitais, por outro a população mundial não pára de aumentar.

O crescimento é um elemento sagrado da economia capitalista. Mas para cada vez mais pessoas, nem o crescimento económico pode ser “sustentável”, nem o capitalismo pode ser “verde”. Defendem por isso uma diminuição da economia até atingir um nível sustentável, um estado de equilíbrio. Ou, nas palavras de Latouche, “sair da sociedade de consumo para uma sociedade de prosperidade sem crescimento. Reduzir o nosso consumo, o nosso tempo de trabalho, redescobrir o prazer de viver.”

O argumento é simples: se os recursos são finitos, então o crescimento também o é. E não é novo: já na década de 70 o Clube de Roma publicou o famoso relatório “Os limites ao crescimento” e o economista romeno Nicholas Georgescu-Roegen publicou “Amanhã, o Decrescimento”. No entanto partidos políticos, comentadores, economistas e jornalistas repetem até hoje os chavões da ideologia neo-liberal da União Europeia: competitividade, produtividade, inovação, tecnologia de ponta, excelência, eficiência, empreendedorismo... “As medidas anti-crise, que procuram relançar o crescimento económico, vão agravar as desigualdades e as condições ambientais a longo prazo”, avisava-se na declaração da Conferência de Barcelona em 2010. E é no seio da Europa que surge o apelo: “decrescimento hoje!”.

A Leipzig chegaram mais de 600 propostas de contribuições vindas de toda a Europa, mas também do Japão, Índia, Brasil ou Estados Unidos. O numero superou as expectativas dos organizadores da conferência, que vêm aqui uma prova do interesse cada vez maior no tema. Na abertura do evento estarão a jornalista canadiana Naomi Klein, autora do best seller “No Logo”, e Alberto Acosta, um dos pais da atual constituição do Equador, que advoga o bem estar das populações, a vida simples e comunitária em harmonia com a natureza, acima da economia de mercado.

“Chegou a altura de construirmos estruturas económicas e sociais que permitam uma boa vida para toda a gente, independente do crescimento económico. Juntamos pessoas de vários contextos para congregar forças”, afirmam os organizadores, que procuram fazer da própria conferencia um exemplo de um mundo já transformado. Exemplos? A equipa organizadora toma as decisões por consenso, usando métodos de democracia directa, e tem em conta a igualdade de género na atribuição de responsabilidades. Para que ninguém fique excluído, cada participante pode escolher por si próprio o valor que quer pagar pela participação na conferencia. Habitantes da cidade de Leipzig vão oferecer estadia gratuita em suas casas. A comida será regional, biológica e vegetariana. O evento é não-comercial, e procura colaborar com associações e projectos sem fins lucrativos, em vez de empresas. Para ajudar a que pessoas com menos meios tenham acesso à conferencia, foi ainda lançada uma campanha de crowdfunding (visionbakery.com/degrowth).

Décroissance, Postwachstum, degrowth, decrecimiento, decrescita – a conferencia vai fazer convergir uma discussão que se faz em vários lugares e em várias línguas. E o decrescimento promete tornar-se uma das palavras-chave das próximas décadas.

mais informação:
leipzig.degrowth.org

Um comentário:

Vivek Kumar disse...

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