quarta-feira, 28 de novembro de 2007
Ja alguma vez te perguntas-te de onde vem o dinheiro?
Este video (Money as debt) explica de forma muito simples de onde vem o dinheiro. Uma verdade que todos deveriamos conhecer.
VER VIDEO
quarta-feira, 21 de novembro de 2007
Dia sem compras em Portugal
http://gaia.org.pt/semcompras/
"25 de Novembro de 2006 - DIA SEM COMPRAS,
Este ano a mensagem é clara: comprar menos, viver mais! Tentar uma vida simples por um dia, passando o tempo com aqueles que gostamos em vez de gastar dinheiro com eles.
É também um dia de reflexão sobre as consequências ambientais, sociais e éticas do consumismo. Os países desenvolvidos - que constituem cerca de 20% da população mundial consomem 80% dos recursos naturais do planeta, causando um nível desproporcionado de danos ambientais e uma injusta distribuição da riqueza.
Como consumidores que somos temos que questionar os produtos que compramos e quem os fabrica acerca da sua origem e processo de fabrico. Quais são os verdadeiros resíduos resultantes da sua produção? Quais as condições de trabalho e o nível de vida dos trabalhadores? O que nos leva a esta sede de comprar? Será a necessidade?
O dia sem Compras pretende ser um dia, um primeiro dia que sirva de exemplo para uma mudança de consciência e até de estilo de vida, para um consumo mais responsável e racional. Um consumo focado nas verdadeiras necessidades e tendo em conta os aspectos sociais e ambientais inerentes à preservação da Terra e ao tratamento igual que todos os seres humanos merecem. " http://gaia.org.pt/semcompras/que.html
domingo, 18 de novembro de 2007
DIA SEM COMPRAS
Dia sem compras!
Sábado 24 de Novembro de 2007
Os Países ricos consomem 80% dos recursos planetários.
Organiza uma acção na tua cidade
A sociedade de consumo é cega,
Não existem crescimento nem desenvolvimento infinitos num planeta com recursos limitados.
Extraímos hoje em dia o dobro dos recursos fosseis admissível, e emitimos para a atmosfera o dobro de gás carbónico do que o planeta pode absorver.
A biodiversidade está a desaparecer.
O declínio da extracção do petróleo começou hoje.
A sociedade de consumo gera pilhagem e injustiça:
20% da população do planeta, os países ricos, consomem mais de 80% dos recursos.
O nosso nível de consumo tem um preço:
A escravidão económica de populações inteiras.
A sociedade de consumo é mortífera, reduz o ser humano a agente económico:
produtor-consumidor.
Nega as nossas dimensões políticas, culturais, filosóficas, poéticas ou espirituais que são a essência da nossa humanidade.
Devemos libertar-nos deste obscurantismo que consiste em acreditar na superpotência da tecnociência e a lhe descarregar todas as nossas responsabilidades. A ciência baseia-se na dúvida e não na fé.
A esperança está em reanimar a nossa consciência e que tal se manifeste nas nossas acções quotidianas. Reencontremos a nossa capacidade de autolimitação, individualmente com a simplicidade voluntária* e colectivamente graças ao decrescimento.
Façamos um gesto simbólico, desde hoje: por um dia, este sábado 24 de Novembro... Cessemos de comprar.
Anunciar à vossa volta. Dizer aos amigos. Implicar a vossa família. Simplificar a vossa vida.
Copiem o cartaz do dia sem compras, e coloquem-no no trabalho, em casa dos vizinhos, em todo o lado a vossa volta.
Festejemos o dia sem compras.
Organiza uma acção na vossa cidade/ vila/aldeia
* brevemente serão editados neste blog artigos sobre esta questão
http://www.casseursdepub.org/
quarta-feira, 7 de novembro de 2007
As vantagens do decrescimento
O crescimento pelo crescimento torna-se o objetivo primordial, senão o único da vida, na sociedade capitalista, o que acarreta uma degradação progressiva do ambiente e dos recursos globais. Vivemos, atualmente, às vésperas de catástrofes previsíveis
“Pois será uma satisfação perfeitamente positiva ingerir alimentos sadios, ter menos barulho, estar num meio ambiente equilibrado, não mais sofrer restrições de circulação etc.” Jacques Ellul1
Depois de algumas décadas de desperdício frenético, entramos na zona das perturbações climáticas, das guerras do petróleo, da guerra da água...
Em 14 de fevereiro de 2002, em Silver Spring, diante dos responsáveis norte-americanos pela meteorologia, George W. Bush declarava: “Por ser a chave do progresso do meio ambiente, por fornecer os recursos que permitem investir nas tecnologias limpas, o crescimento é a solução, não o problema2.” No fundo, essa posição “pró-crescimento” também é partilhada pela esquerda, inclusive por muitos contestadores da globalização que consideram que o crescimento também é a solução para os problemas sociais, criando empregos e propiciando uma distribuição mais igualitária.
Fabrice Nicolino, por exemplo, colunista de meio ambiente do semanário parisiense Politis, próximo do movimento que contesta a globalização, demitiu-se recentemente desse jornal após um conflito interno provocado pela... reforma das aposentadorias. Seria o debate que se seguiu revelador de um mal-estar na esquerda3? A razão do conflito, considera um leitor, é provavelmente “ousar ir contra uma espécie de pensamento único, comum a quase toda a classe política francesa, que afirma que nossa felicidade deve obrigatoriamente passar por mais crescimento, mais produtividade, mais poder aquisitivo e, portanto, mais consumo4.
Crescimento, o único objetivo da vida
Para conciliar as contradições entre o crescimento e o respeito pelo meio ambiente, os especialistas pensam encontrar a poção mágica na ecoeficiência
Depois de algumas décadas de desperdício frenético, parece que entramos na zona das tempestades – no sentido próprio e no figurado... As perturbações climáticas são acompanhadas pelas guerras do petróleo, que serão seguidas pela guerra da água5, mas também por possíveis pandemias, desaparecimento de espécies vegetais e animais essenciais como conseqüência de catástrofes biogenéticas previsíveis.
Nessas condições, a sociedade de crescimento não é sustentável, nem desejável. É urgente, portanto, que se pense numa sociedade de “decrescimento”, se possível serena e convivial.
A sociedade de crescimento pode ser definida como uma sociedade dominada por uma economia de crescimento, precisamente, e que tende a se deixar absorver por ela. O crescimento pelo crescimento torna-se assim o objetivo primordial, senão o único da vida. Uma tal sociedade não é sustentável, porque se choca com os limites da biosfera. Se tomarmos, como índice do “peso” para o meio ambiente de nosso modo de vida, “a marca” ecológica deste último em superfície terrestre necessária, obteremos resultados insustentáveis, tanto do ponto de vista da eqüidade nos direitos de retirada da natureza, quanto do ponto de vista da capacidade de regeneração da biosfera. Um cidadão dos Estados Unidos consome em média 9,6 hectares, um canadense 7,2, um europeu médio 4,5. Estamos, portanto, muito distantes da igualdade planetária e mais ainda de um modo de civilização sustentável, que precisaria se limitar a 1,4 hectare, admitindo-se que a população atual permaneça estável7.
A fé na ciência dos economistas
Se acompanharmos o raciocínio de Ivan Illich, o desaparecimento programado da sociedade de crescimento não é necessariamente uma má notícia
Para conciliar os dois imperativos contraditórios do crescimento e do respeito pelo meio ambiente, os especialistas pensam encontrar a poção mágica na ecoeficiência, peça central e, a bem dizer, a única base séria do “desenvolvimento sustentável”. Trata-se de reduzir progressivamente o impacto ecológico e a intensidade da retirada dos recursos naturais até atingir um nível compatível com a capacidade reconhecida de carga do planeta7.
É incontestável que a eficiência ecológica tem aumentado de maneira notável, mas, ao mesmo tempo, a perpetuação do crescimento desenfreado acarreta uma degradação global. As baixas de impactos e de poluição por unidade de mercadoria produzida são sistematicamente invalidadas pela multiplicação do número de unidades vendidas (fenômeno ao qual se deu o nome de “efeito retorno”). A “nova economia” é, na verdade, relativamente imaterial ou menos material, mas ela mais complementa do que substitui a anterior. No final das contas, todos os indicadores demonstram que as retiradas continuam a crescer8.
Enfim, é preciso a fé inabalável dos economistas ortodoxos para pensar que a ciência do futuro resolverá todos os problemas, e que é concebível a substituição ilimitada da natureza pelo artifício.
Elevação do nível de vida é ilusória
A sociedade de crescimento produz um aumento das desigualdades e das injustiças, cria um bem-estar ilusório e não promove uma sociedade convivial
Se acompanharmos o raciocínio de Ivan Illich, o desaparecimento programado da sociedade de crescimento não é necessariamente uma má notícia. “A boa notícia é que não é primeiramente para evitar os efeitos secundários negativos de uma coisa que seria boa em si que precisamos renunciar a nosso modo de vida – como se tivéssemos que optar entre o prazer de um alimento delicioso e os riscos aferentes. Não, é que o alimento é intrinsecamente ruim, e que seríamos bem mais felizes ao evitá-lo. Viver de outra maneira para viver melhor9.”
A sociedade de crescimento não é desejável, pelo menos por três razões: produz um aumento das desigualdades e das injustiças, cria um bem-estar amplamente ilusório, e não promove, para os próprios “favorecidos”, uma sociedade convivial, mas uma anti-sociedade doente devido à sua riqueza.
A elevação do nível de vida de que pensa se beneficiar a maioria dos cidadãos do hemisfério Norte é cada vez mais ilusória. É claro que gastam mais, em termos de compra de bens e serviços, mas esquecem de deduzir a elevação superior dos custos. Esta última assume formas diversas, mercantis e não mercantis: degradação da qualidade de vida – não quantificada, mas sofrida (ar, água, meio ambiente) –, despesas de “compensação” e de reparação (medicamentos, transportes, lazer) que se tornaram necessárias na vida moderna, elevação dos preços dos artigos escassos (água engarrafada, energia, espaços verdes...).
Decrescimento não é crescimento negativo
A partir da década de 70, o índice de progresso real estagnou, e até regridiu, para os Estados Unidos, enquanto o do PIB não pára de aumentar
Herman Daly estabeleceu um índice sintético, o Genuine Progress Indicator (Indicador de Progresso Autêntico - IPA) que corrige, por exemplo, o Produto Interno Bruto (PIB) das perdas causadas pela poluição e pela degradação do meio ambiente. A partir da década de 70, o índice de progresso real estagnou, e até regridiu, para os Estados Unidos, enquanto o do PIB não pára de aumentar10. É lamentável que, na França, ninguém ainda se tenha encarregado de fazer esses cálculos. Temos todos os motivos para pensar que o resultado seria comparável. Seria o mesmo que dizer que, nessas condições, o crescimento é um mito, até no interior do imaginário da economia de bem-estar, muito mais na sociedade de consumo! Pois o que cresce de um lado, decresce muito mais do outro.
Infelizmente tudo isso não basta para nos levar a abandonar o bólido que nos conduz diretamente para o impasse, e a embarcar na direção oposta.
Compreendamos bem. O decrescimento é uma necessidade: não é, de saída, um ideal, nem o único objetivo de uma sociedade de pós-desenvolvimento ou de um outro mundo possível. Mas façamos das tripas coração, e admitamos, para as sociedades do hemisfério Norte, o decrescimento como um objetivo do qual se pode tirar proveito. A palavra de ordem de decrescimento tem sobretudo como finalidade marcar nitidamente o abandono do objetivo insensato do crescimento pelo crescimento. Em particular, o decrescimento não é o crescimento negativo, expressão contraditória e absurda que traduz bem a dominação do imaginário do crescimento. Isso quereria dizer ao pé da letra: “avançar recuando”. A dificuldade em que nos encontramos para traduzir “decrescimento” em inglês é muito reveladora dessa dominação mental do economês, e simétrica, de alguma forma, da impossibilidade de traduzir crescimento ou desenvolvimento (mas também, naturalmente, decrescimento...) nas línguas africanas.
O impacto sobre o meio ambiente
A dificuldade em traduzir “decrescimento” para o inglês é simétrica à impossibilidade de traduzir desenvolvimento nas línguas africanas
Sabe-se que a simples desaceleração do crescimento mergulha nossas sociedades no desespero devido ao desemprego e ao abandono dos programas sociais, culturais e ambientais que garantem um mínimo de qualidade de vida. Imagine-se que catástrofe seria uma taxa de crescimento negativo! Da mesma forma que não há nada pior do que uma sociedade trabalhista sem trabalho, não há nada pior do que uma sociedade de crescimento sem crescimento. É o que condena a esquerda institucional ao social-liberalismo, por não ousar fazer a descolonização do imaginário. O decrescimento, portanto, só é concebível numa “sociedade de decrescimento”. É conveniente determinar bem seus contornos.
Uma política de decrescimento poderia consistir inicialmente em reduzir, e até suprimir, o peso sobre o meio ambiente das cargas que não trazem benefício algum. O questionamento do volume considerável dos deslocamentos de homens e de mercadorias através do planeta com o impacto negativo correspondente (portanto, uma “relocalização” da economia), o questionamento do volume não menos considerável da publicidade exagerada e freqüentemente nefasta e, enfim, o questionamento da obsolescência acelerada dos produtos e dos aparelhos descartáveis, sem outra justificativa a não ser fazer com que gire cada vez mais depressa a megamáquina infernal, são reservas representativas de decrescimento no consumo material.
“Consumo e estilos de vida”
Entendido desta forma, o decrescimento não significa necessariamente uma regressão do bem-estar. Em 1848, para Karl Marx, havia chegado o tempo da revolução social e o sistema estava pronto para a passagem à sociedade comunista de abundância. A inacreditável superprodução material de tecidos de algodão e de bens manufaturados parecia-lhe mais do que suficiente, uma vez abolido o monopólio do capital, para alimentar, alojar e vestir corretamente a população (pelo menos a ocidental). E, no entanto, a “riqueza” material era infinitamente menor do que hoje. Não havia carros, nem aviões, nem plástico, nem máquinas de lavar, nem geladeiras, nem computadores, nem as biotecnologias, nem também os pesticidas, os adubos químicos ou a energia atômica! Apesar das alterações inauditas da industrialização, as necessidades ainda eram modestas e era possível satisfazê-las. A felicidade, quanto à sua base material, parecia ao alcance da mão.
Para conceber a sociedade de decrescimento deve-se questionar a dominação da economia sobre a vida na teoria e na prática – e sobretudo em nossas cabeças
Para conceber a sociedade de decrescimento sereno e chegar a ela, é preciso literalmente sair da economia. Isto significa questionar a dominação da economia sobre o resto da vida na teoria e na prática, mas sobretudo em nossas cabeças. A redução feroz do tempo de trabalho imposto para garantir a todos um emprego satisfatório é uma condição prévia. Em 1981, Jacques Ellul, um dos primeiros pensadores de uma sociedade de decrescimento, já fixava como objetivo para o trabalho, não mais do que duas horas por dia11. Inspirando-se na carta de princípios “Consumo e estilos de vida”, proposta ao Fórum das Organização Não Governamentais (ONG) durante a reunião de 1992 no Rio, é possível sintetizar tudo isso num programa em seis “R”: Reavaliar, Reestruturar, Redistribuir, Reduzir, Reutilizar, Reciclar. Estes seis objetivos interdependentes formam um círculo virtuoso de decrescimento sereno, convivial e sustentável. Poder-se-ia até aumentar a lista dos “R” com reeducar, reconverter, redefinir, remodelar, repensar etc., e, é claro, relocalizar, mas todos esses “R” estão mais ou menos incluídos nos seis primeiros.
A descolonização do imaginário
Vê-se imediatamente quais são os valores que devem ser privilegiados e que deveriam ser prioritários em relação aos valores dominantes atuais. O altruísmo deveria preceder o egoísmo, a cooperação, preceder a competição desenfreada, o prazer do lazer, preceder a obsessão pelo trabalho, a importância da vida social, preceder o consumo ilimitado, o gosto pela bela obra, preceder a eficiência produtivista, o razoável, preceder o racional etc. O problema é que os valores atuais são sistêmicos. Isso significa que são suscitados e estimulados pelo sistema e que, em contrapartida, contribuem para reforçá-lo. É claro que a escolha de uma ética pessoal diferente, como a simplicidade voluntária, pode mudar a direção da tendência e solapar as bases imaginárias do sistema, mas sem um questionamento radical deste último, a mudança corre o risco de ser limitada.
Dirão que é um programa amplo e utópico? Será que a transição é possível sem uma revolução violenta – ou, mais precisamente, poderá a necessária revolução mental ser feita sem violência social? A limitação drástica dos ataques ao meio ambiente e, portanto, da produção de valores de troca incorporados em suportes materiais físicos não implica, necessariamente, numa limitação da produção de valores de uso através de produtos imateriais. Estes, pelo menos em parte, podem conservar uma forma mercantil.
No entanto, se o mercado e o lucro persistirem como incentivos, não podem mais ser os fundamentos do sistema. Podem ser concebidas medidas progressivas constituindo etapas, mas é impossível dizer se serão passivamente aceitas pelos “privilegiados”, que seriam suas vítimas, nem pelas atuais vítimas do sistema, que são mental e fisicamente “drogados” por ele. Entretanto, a preocupante onda de calor de 2003 no Sudoeste da Europa agiu muito mais do que todos os nossos argumentos no sentido de convencer sobre a necessidade de se orientar para uma sociedade de decrescimento. Dessa forma, para realizar a necessária descolonização do imaginário, pode-se, no futuro, contar muito amplamente com a pedagogia das catástrofes.
Serge Latouche
(Trad.: Regina Salgado Campos)
1 - Entrevista com Jacques Ellul, Patrick Chastenet, La table ronde, Paris, 1994, p. 342.
2 - Le Monde, 16 de fevereiro de 2002.
3 - Fabrice Nicolino, "Retraite ou déroute?", Politis, 8 de maio de 2003. A crise foi agudizada por fórmulas contestáveis de Fabrice Nicolino qualificando o movimento social de "festival de gritaria corporativista", ou invocando "o senhor que quer continuar a se aposentar aos 50 anos - muito bem!, ele dirige trens, é a mina, é Germinal!".
4 - Politis, 12 de junho de 2003.
5 - Vandana Shiva, La guerre de l’eau. Parangon, 2003.
6 - Gianfranco Bologna (org.), Italia capace di futuro. WWF-EMI, Bologne, 2001, pp. 86-88.
7 - The Business case for sustanable developpement. Documento do World Business Counsil for Sustanable Developpement para Johannesburgo.
8 - Mauro Bonaiuti, "Nicholas Georgescu-Roegen. Bioeconomia. Verso un’altra economia ecologicamente e socialmente sostenible". Bollati Boringhieri, Torino, 2003. Especialmente, pp. 38-40.
9 - Jean-Pierre Dupuy, “ Ivan Illich ou la bonne nouvelle ”, Le Monde, 27 de dezembro de 2002.
10 - C. Cobb, T. Halstead, J. Rowe, “ The Genuine Progress Indicator: Summary of Data and methodology, Redefining Progress ”, 1995 e dos mesmos, “ If the GDP is Up, Why is America Down ? ”, in Athlantic Monthly, n° 276,
11 - Ler “Changer de révolution”, citado por Jean-Luc Porquet in Ellul L’homme qui avait (presque) tout prévu, Le cherche midi, 2003, pp. 212-213.
http://diplo.uol.com.br/2003-11,a797
quinta-feira, 1 de novembro de 2007
O pico do petróleo foi em 2006
- A produção de petróleo atingiu o seu pico em 2006 e cairá todos os anos
- Um declínio na produção de gás, carvão e urânio está igualmente previsto
A produção mundial de petróleo já atingiu o seu pico e cairá para metade em 2030, de acordo com um relatório que alerta igualmente que esta escassez de combustíveis fosseis poderá iniciar guerras e rupturas sociais. Um grupo alemão de monitorização da energia (EWG) divulgou a 22 de Outubro, 2007, um estudo que mostra que a produção global de petróleo atingiu o seu pico em 2006 - bastante mais cedo do que a grande parte dos peritos previram. O relatório, que prevê uma descida percentual na produção por ano, chega após os preços do petróleo ter atingido novos recordes quase todos os dias na semana precedente, atingindo nessa sexta feira mais de 90$ o barril.
“Em breve o mundo não poderá produzir todo o petróleo que necessita, pois a procura está a aumentar enquanto a oferta esta a diminuir. Este é um enorme problema para a economia mundial.” Disse Hans-Josef Fell, fundador do EWG. O autor do relatório, Joerg Schindler, disse que a descoberta mais alarmante foi o declínio da produção de petróleo se produzir por saltos depois do pico, que já ultrapassámos segundo o autor. Estes resultados contrastam com as projecções da agência internacional da energia, que diz que existe poucas razões para nos preocuparmos com as reservas de petróleo neste momento. No entanto, o estudo do EWG baseia-se sobretudo na produção actual do petróleo, dados que, segundo o relatório, são mais fiáveis que as estimativas das reservas subterrâneas. O grupo afirma que as estimativas oficiais da indústria são de 1.255 giga barris – equivalente a 42 anos de abastecimento à taxa de consumo actual. Mas pensa-se que afinal estas são de apenas 2 terços desse número.A produção global actualmente é de 81 milhões de barris por dia – os peritos da EWG estimam que caia para 39 milhões em 2030. Prevê também fortes descidas na produção de gás, carvão e urânio pois estão a esgotar-se, produção britânica atingiu o seu pico em 1999 e já caiu para metade. O relatório apresenta uma visão sombria do futuro a não ser que uma abordagem radicalmente diferente seja adoptada. Este cita o economista britânico David Fleming: “A escassez antecipada do abastecimento poderá facilmente levar a cenários perturbantes de massas em fúria como as da Birmânia este mês. Para o governo, a indústria e para o grande público, apenas passar atabalhoadamente pela situação já não é uma opção pois esta situação pode sair completamente fora de controlo e tornar-se na total liquefacção da sociedade.”Schnidler chega à mesma conclusão: “O mundo está no início de uma mudança estrutural do seu sistema económico. Esta mudança será despontada pelo declínio do abastecimento de combustíveis fosseis e irá influenciar todos os aspectos da nossa vida quotidiana.”.
Jeremy Leggett, um dos ambientalistas britânicos mais proeminentes e autor de Half Gone, um livro sobre o “pico do petróleo” – definido como o momento em que a produção máxima é atingida, afirmou que tanto o governo britânico como a indústria da energia estão em “negação institucionalizada” e que medidas activas já deviam ter sido tomadas.
“Quando eu era conselheiro do governo, propus que fosse constituída uma “força de acção” para ver quão rapidamente o Reino Unido conseguia usar as tecnologias das energias alternativas in extremis, como o pico,” afirmou. “Outros conselheiros da indústria apoiaram essa ideia. Mas o governo prefere adormecer o assunto sem sequer fazer um estudo de contingência. Para todos os que sabemos que um pico do petróleo prematuro apresenta um perigo presente é impossível compreender uma tal complacência.” Fell afirmou que o mundo tinha que se orientar rapidamente para o emprego massivo de energias renováveis e para um aumento drástico da eficiência energética, ambos como forma de combater as mudanças climáticas e de forma a assegurar que as luzem fiquem acesas. “Se fizermos tudo isto podemos não ter uma crise energética.”
Ele acusa o governo britânico de hipocrisia. “Tony Blair e Gordon Brown têm falado muito sobre as mudanças climáticas mas não puseram em prática nenhuma politica decente de aumento do uso das renováveis (energias),” afirmou. “é por isso que andam a falar do nuclear e da captura e do armazenamento de carvão.”
Ontem, um relações públicas do departamento de negócios e empresas disse:
“Nos próximos anos a produção e capacidade de refinamento global de petróleo vai aumentar mais rapidamente que a procura. Os recursos petrolíferos mundiais são suficientes para manter o crescimento económico para o futuro próximo. O desafio vai ser trazer esses recursos para o mercado de forma a assegurar a sustentabilidade, a tempo, de confiança e barato das fontes de energia.”
A politica germânica, que garante pagamentos acima dos preços do mercado as energias renováveis, está a ser adoptada em muitos países, mas não na Grã-Bretanha, onde as energias renováveis geram cerca de 4% da electricidade do país e 2% da energia total necessária.
Ashley Seager
Segunda feira, 22 de Outubro, 2007
The Guardian
http://www.guardian.co.uk/oil/story/0,,2196435,00.html
Mais informações sobre o pico do petróleo - http://peakoilportuguese.blogspot.com/
O Decrescimento sustentável (parte II)
Um exemplo : a energia
Mais de três quartos dos recursos energéticos que utilizamos hoje em dia são de origem fóssil. Estes são o gás, o petróleo, o urânio, o carvão. São recursos não renováveis, ou mais exactamente com uma taxa de renovação extremamente baixa. De qualquer forma, sem qualquer relação com uso actual. A economia sã impõe-nos que paremos esta pilhagem. Devemos reservar estes recursos preciosos para usos vitais. Ainda por cima, a combustão destes recursos fosseis desagrega a atmosfera (efeito de estufa e outras poluições). Quanto ao nuclear, além dos perigos nas instalações, produz detritos com vida infinita à escala humana (plutónio 239, semi-vida 24 400 anos, Iodo 129, semi-vida 16 milhões de anos). O princípio da responsabilidade, que define a idade adulta, diz-nos que não devemos desenvolver uma técnica que não controlamos. Não devemos deixar aos nossos descendentes um planeta envenenado até ao final dos tempos.
Por outro lado, temos direito as energias «de rendimento», ou seja, a solar, a eólica, e, em parte, a biomassa (madeira) e um pouco da hidráulica. As duas últimas devem repartir-se com outros usos que não apenas a produção de energia.
Este objectivo só é atingível graças a uma redução drástica do nosso consumo energético. Numa economia sã, a energia fóssil desaparece. Será reservada a usos de sobrevivência como os medicais. Os transportes aéreos, os veículos a motor de propulsão estarão condenados a desaparecer. Eles devem ser substituídos pelos barcos à vela, a bicicleta, o comboio, a tracção animal (apenas quando a alimentação dos animais for sustentável). Bem entendido, toda a nossa civilização será transformada por esta mudança na relação com a energia. Isto significa o fim das grandes superfícies de comércio com a valorização dos comércios locais e dos mercados, o fim dos produtos artesanais importados ao desbarato dando lugar aos objectos fabricados localmente, o fim das embalagens de deitar fora para passarmos a usar recipientes reutilizáveis, o fim da agricultura intensiva motorizada valorizando assim a agricultura camponesa extensiva. O frigorífico será substituído por um quarto frio, a viagem as Antilhas por voltas de bicicleta no Alentejo, o aspirador pela vassoura, a alimentação carnívora por uma quase vegetariana, etc. Pelo menos durante o período de reorganização da nossa sociedade, a perda da energia fóssil levará a m aumento significativo do trabalho nos países ocidentais, e mesmo considerando uma redução grande do consumo. Não só deixaremos de ter a energia fóssil, mas também a mão-de-obra barata dos países de terceiro mundo não estará disponível. Nós teremos de recorrer à nossa energia muscular
Um modelo económico alternativo (1)
• O primeiro seria uma economia de mercado controlada que evite todos os fenómenos de concentração. Seria, por exemplo, o fim do sistema de franchising. Todos os artesãos ou comerciantes seriam proprietários das suas ferramentas de trabalho e não poderiam possuir mais de que isso. Este seriam os únicos a decidir os actos da sua actividade, em relação directa com a sua clientela. Esta economia de pequenas entidades, para além do seu carácter humanista, tem o mérito de não criar publicidade, o que é uma condição sine qua non para a realização do decrescimento sustentável.
• O segundo nível, a produção de equipamento necessitando um investimento, existiria um capital misto privado e público, controlado pelos políticos.
• Por fim, o terceiro nível. Seriam os serviços públicos de base, não privatizáveis (acesso à água, à energia disponível, à educação e à cultura, aos transportes públicos, à saúde, à segurança).
Nós teremos de recorrer à nossa energia muscular.
A inserção de um tal modelo levará a um comércio justo para todos. Esta regra simples levará ao fim da escravidão do neocolonialismo.
Um desafio aos “ricos”
Ao anunciar as medidas a tomar para entrarmos em decrescimento sustentável, a maioria dos cidadãos ficará incrédula. A realidade é demasiado cruel para ser admitida, pelo menos para a maior parte da opinião pública. Ela suscita, na maioria dos casos uma reacção de animosidade. É difícil questionar-se quando se foi criado pelo biberão mediático publicitário da sociedade de consumo. Um cocktail estranhamente parecido com o Soma, droga euforizante descrita por Aldous Huxley no “Admirável mundo novo” (Brave New World, 1932, que anunciava um poder psicobiológico!). O mundo intelectual, demasiado ocupado a resolver algumas querelas bizantinas ou embebido pela ciência, terá também dificuldade em admitir que passou ao lado de um desafio da civilização tão importante. É difícil para os ocidentais imaginar um outro modo de vida. Pior, não podemos esquecer que o problema não se põe da mesma forma para a imensa maioria dos habitantes do globo. 80% dos humanos vivem sem automóvel, sem frigorífico ou ainda, sem telefone. 94% dos humano nunca apanharam o avião. Devemos, então, sair da nossa posição de habitante dos países ricos para percepcionar o mundo à escala planetária e imaginar a humanidade como uma e indivisível. Sem isso, seremos levados a pensar como Marie-Antoinette na véspera da revolução francesa, incapaz de imaginar deslocar-se sem a sua cadeira transportada por criados e oferecendo brioches aos que não tinham pão.
Fazer dieta
Cerca de um terço da população americana é obesa. Os americanos lançaram-se na pesquisa do gene da obesidade para resolver este problema de forma científica. A boa solução é certamente adoptar uma dieta mais saudável. Este comportamento é perfeitamente sintomático da nossa civilização. Antes de pôr em causa o nosso modo de vida, procuramos uma fuga na ciência, através de soluções técnicas, parar resolver os nossos problemas culturais. Ainda por cima esta fuga não faz mais que acelerar o movimento destrutivo. De facto, mesmo que o decrescimento nos possa parecer impossível, a barreira está sobretudo nas nossas cabeças que em dificuldades reais de o pôr em prática. Sair da opinião de um condicionamento ideológico fundado na crença na ciência, no novo, no progresso, no consumo, no crescimento condiciona esta evolução. A prioridade em empenar-se à escala individual na simplicidade voluntária. É a mudança em nós mesmos que transformará o mundo.
Definir um conceito
Se formos à definição do “desenvolvimento sustentável”, quer dizer: «ao que permite responder às necessidades das gerações actuais, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de responder às suas necessidades», então o termo apropriado para os países ricos é o “decrescimento sustentável”.
Bruno Clémentin e Vincent Cheynet
(La decroissance soutenable - http://www.decroissance.org/index.php?chemin=textes/decroisoute)
(1) Nota do tradutor/ editor do blog- existem diversos modelos económicos alternativos propostos dentro da ideologia do decrescimento, não estando o editor deste blog inteiramente de acordo com o aqui proposto. Outros exemlos serão publicados futuramente.