quarta-feira, 24 de outubro de 2007

O Decrescimento sustentável (parte I)

A contestação do crescimento económico é um fundamento da ecologia política. Não é possível um crescimento infinito num planeta finito. Muito incómoda, pois entra em ruptura radical com o nosso desenvolvimento actual, esta crítica foi rapidamente abandonada por conceitos mais suaves, como o “desenvolvimento sustentável “. No entanto, racionalmente, não existem outra vias pelas quais os países ricos (20%) da população planetária e 80% do consumo dos recursos naturais) que de reduzir a sua produção e o seu consumo de forma a “decrescer”.

Não é preciso ser economista para perceber que um indivíduo, ou uma colectividade, que retira a maior parte do seus recursos do seu capital, e não dos seus rendimentos, está destinado à falência.Tal é, no entanto, o caso das sociedades ocidentais, porque elas esgotam os recursos naturais do planeta, um património comum, sem ter em conta o tempo necessário ao seu renovamento. Não satisfeito com a pilhagem do capital, o nosso modelo económico, baseado no crescimento, induz a um aumento constante da exploração dos recursos. Os economistas ultra liberais como os neo-marxistas eliminaram dos seus raciocínios o paramêtro «natureza», pois era demasiado incómodo. Privado do seu dado fundamental, o nosso modelo económico e social encontra-se assim desligado da sua realidade fisica e funciona no virtual. Os economistas vivem num mundo religioso do secúlo XIX onde a natureza era considerada como inesgotável. Negar a realidade pelo lucro de uma construção intelectual é próprio de uma ideologia. Nós podemos, então, considerar que a económia actual tem em primeiro lugar uma natureza ideológica. A realidade é mais complexa, pois o sistema económico está sobretudo abandonado a si próprio, sem controlo político.

O objetivo de uma económia sã

Nós chamamos económia sã a um modelo económico que, no mínimo, não toca no capital natural. O ideal seria reconstituir o capital natural já destruido. Mas, o primeiro objectivo, de uma humanidade que vive dos seus rendimentos naturais, constitui já um desafio extraordinário. Nós podemos mesmo nos questionar se esse objectivo é ainda realisável e se o ponto de não retorno não foi já atingido. De qualquer forma, este objectivo é o unico imaginável para a humanidade, tanto de um ponto de vista moral como cientifíco.

Moral, pois é nosso dever, da responsabilidade de cada um e da humanidade, preservar o ambiente e de o restituir aos seus descendentes, no mínimo, no estado em que lhe foi atribuído.

Cientifíco, pois imaginar que a humanidade possui meios de colonizar outros planetas é puro delírio. As distâncias no espaço estão fora do alcance das nossas tecnologias. Para alcançar pequenos saltos no espaço, nós gastamos inutilmente quantidades gigantescas de recursos preciosos.

Para mais, de forma puramente teórica, se conseguissemos trazer sobre a Terra e de forma rentável um recurso energético extraterrestre, isto apenas teria como consequência uma nova degradação ecológica. Os cientistas estimam que o perigo é maior do lado do “excesso” de recursos que do lado do risco de os esgotar. O perigo principal está na incapacidade do ecossistema global de absorver todos os poluentes que nós geramos. A chegada de um novo recurso energético não fará mais que amplificar as mudanças climáticas.

Não mexer, de todo, no nosso capital natural parece dificil, não sendo que para produzir objectos de primeira necessidade como uma panela ou uma agulha. Mas, nós já exploramos e transformamos uma quantidade considerável de minerais. A massa dos objectos produzidos constitui já um potencial enorme de matéria a recliclar.

O objectivo de uma economia sã pode-nos parecer um horizonte utópico. De facto, temos no máximo 50 anos para decidir se queremos salvaguardar o ecossistema. A biosfera não negocia atrasos suplementares. Resta-nos, ao ritmo de consumo actual, 41 anos de reservas de petróleo, 70 anos de gaz, 55 anos de urânio. Mesmo que estes números possam ser contestados, nós dirigimo-nos para o fim de grande parte dos recursos planetários rapidamente, se não mudarmos radicalmente de rumo. Contráriamente ao século XX, consumimos mais recursos do que descobrimos novos. Ainda mais, prevê-se que, daqui a 20 anos, haja a duplicação do parque automóvel actual tal como o consumo energético mundial. Por fim, mais nos aproximamos do fim dos reursos, mais estes são difíceis de extrair. Resta dizer que o maior perigo parece ser, hoje em dia, mais os danos causados ao clima que o esgotamento dos recursos naturais.

O teórico do decrescimento

O economista romeno Nicholas Georgescu-Roegen é o pai do decrescimento. Nicholas Georgescu-Roegen fez a distinção entre a “alta entropia”, energia não disponível à humanidade, da “baixa entropia”, energia disponível. Ele demonstra simplesmente que cada vez que nós retiramos recursos ao capital natural, como as energias de stock, nós hipotecamos as chances de sobrevivências dos nossos descendentes. «Cada vez que produzimos um automovel, fazemo-lo à custa de uma redução do número de vidas no futuro». Ele põe em evidência os impasses do “crescimento zero” ou do “estado estacionário” que prometem os ecologistas. De facto, mesmo que estabilizemos a economia, continuaremos a esgotar o nosso capital.

O decresimento sustentável

Todo o problema consiste em passar de um modelo económico e social fundado na expansão permanente a uma civilização «sóbria» em que o modelo económico integra os limites fisicos do planeta. Para passar da nossa civilização a uma economia sã, os países ricos devem empenhar-se na redução drástrica da sua produção e do seu consumo. Em termos económicos isto significa entrar no decrescimento. O problema é que as civilizações modernas, para não gerar conflitos sociais, têm necessidade do crescimento perpétuo. O fundador da revista The Ecologist, um ecologista milionário e conservador Edwards Goldsmith avança que ao reduzirmos de 4% por ano durante 30 anos a produção e o consumo, teremos uma chance de escapar à crise climática, «com um pouco de vontade politica». Fácil de dizer em papel, seja ele reciclado ou branqueado sem cloro! A realidade sociológica é outra. Mesmo os ricos dos países ricos aspiram a consumir cada vez mais. E não será «um minímo de vontade politica» que será necessário se um grupo desejasse conduzir tal politica a partir de cima, mas sim um poder totalitário. Este terá todas os meios para ir contra a sede sem fim de consumo produzida por anos sem fim de publicidade. A menos que entremos numa ecónomia de guerra, a chamada à responsabilidade dos indivíduos é a prioridade. Os mecanismos económicos conduzidos pela politica terão um papel fundamental, mas serão contudo secundários. A mudança deverá portanto operar-se “por baixo”, para nos mantermos na esfera da democracia.

Edward Goldsmith afirma também que apenas uma crise económica mundial poderá retardar a crise ecológica global se nada fôr feito. A história demostra-nos que as crises raramente tiveram virtudes pedagógicas e que elas geram frequentemente conflitos armados. O humano em situações de perigo priviligia os seus instintos de sobrevivência, em deterimeno da sociedade. A crise de 1929 levou ao poder Hitler, os nazis, os fascistas, os franquistas na Europa e os ultra nacionalistas no Japão. As crises chamam os poderes fortes e a todos os inconvenientes que eles geram. O objetivo consiste, pelo contrário, em evitar a regulação do caos. É por isso que este decrescimento deverá ser sustentável. Quer dizer que não deverá gerar crises sociais que ponham em causa a democracia e o humanismo. De nada serve preservar o ecossistema global se o preço é para a humanidade o afundar do humano. Mas quanto mais tempo esperarmos para nos empenharmos no “decrescimento sustentável”, mais rude será o choque da prevenção do fim dos recursos, e maior será o risco de um regime eco-totalitário ou de entrarmos na barbárie.

Um exemplo de decrescimento caótico é a Russia. Este país reduziu 35% as emissões de gaz a efeito de estufa desde a queda do muro de Berlim. A Russia desindustrializa-se, ela passou de uma economia de superpotência a uma, em grande parte, de sobrevivência. Em termos puramente ecológicos, é uma proeza. Em termos sociais está bastante longe de ser o caso. Uma coisa parece certa: para atingir a “economia sã”, o decrescimento dos países ricos terá de ser durável.

Bruno Clémentin e Vincent Cheynet

(La decroissance soutenable - http://www.decroissance.org/index.php?chemin=textes/decroisoute)

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

O efeito hipnótico da torradeira
(ou tudo o que está por detrás de uma torradeira eléctrica)

Examinemos uma torradeira. Uma simples pressão sobre a alavanca e, sem perder tempo, as nossas torradas estão douradas e crocantes. Um instrumento maravilhoso! Ao que parece... Pois apenas uma vista de olhos ao fio e á tomada revela que se trata, ao mesmo tempo, de um electrodoméstico fabricado por uma grande companhia, e de um sistema mundial: a corrente eléctrica, que chega apartir de uma rede de cabos e de linhas de alta tensão que são alimentadas por centrais eléctricas, as quais estão dependentes da pressão hidráulica, de pipe-lines ou da carga de petroleiros que, por seu lado, pressupõem barragens ou plataformas petrolíferas. Toda esta rede garante uma distibuição eficaz e rápida, do tipo “express” á disposição de todas as casas, por via de legiões de engenheiros, de planificadores e de agentes financeiros dependentes, por sua vez, de administrações, de universidades e da industria (por vezes mesmo dos militares). A torradeira, como o automóvel, o computador ou a televisão, dependem inteiramente da existência de vastos sistemas de organização e de produção, ligados uns aos outros.

Uma pessoa qualquer, ao ligar um interruptor, não se serve apenas de um instrumento, liga-se a uma tomada do sistema. Entre a utilisação de técnicas simples e de instrumentos modernos encontra-se a transformação de toda uma sociedade. Apesar da sua aparente inocência, as aquisições modernas não funcionam se uma série de instituições da sociedade moderna não funcionarem como previsto, da qual todos os imprevistos foram purgados até aos limites da espontaneidade. Afinal, não falariamos da torradeira se não estivessemos seguros que, ao longo de todo este sistema, tudo o que é necessário não chegasse ao sitio certo, ao momento preciso, com a qualidade esperada. A coordenação, a programação, o entretém e a planificação, e não apenas a energia, são a vida destes aparelhos tão dóceis. Eles dão-nos a impressão de serem servis e de reduzir o trabalho, mas exigem, por outro lado, a contribuição de numerosas pessoas em sítios muito distantes. Os aparelhos funcionam na medida em que as pessoas se transformam em instrumentos.

A distância entre o efeito e a causa, esta invencibilidade do sistema que produz prodigios técnicos, explica o efeito hipnótico da tecnologia sobre os espíritos. A atracção da civilização tecnológica baseia-se muitas vezes nesta ilusão de óptica!

Les renseignements genereux

(Les illusions du progrès technique – pode-se descarregar em : http://www.les-renseignements-genereux.org/brochures/?id=181)

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

AMAP (Associações de apoio à agricultura camponesa)

Produzir e consumir localmente
As AMAP, (Associations pour le Maintien d’une Agriculture Paysanne) Associações de apoio à agricultura camponesa, são partidárias da proximidade entre um grupo de consumidores e uma quinta, frequêntemente situadas numa zona urbana periférica. Esta proximidade desenvolve-se a partir da venda directa dos produtos .Elas estão adaptadas a todos os tipos de produção, e particularmente à de frutos e legumes.

Funcionamento
Nas AMAP, os consumidores escolhem comos agricultores os legumes a cultivar, o preço da subscrição, e as modalidades de distribuição dos produtos (frequência, sitio, horário...). Cada consumidor compra em adiantado a sua parte da colheita, que recebe mais tarde durante a época de produção e segundo as modalidades definidas.

Interesse
Graças a estas responsabilidades recíprocas cada AMAP tem numerosas vantagens:

  • Uma alimentação sâ e que preserva o ambiente: os produtos são frescos, da época, e diversificados (nomeadamente graças à redescoberta de variedades antigas e locais), cultivados sem produtos químicos de síntese, e disponíveis à medida que amadurecem. A proximidade à quinta (no maximo 100 km) minimiza os transportes e o uso de embalagens.
  • Uma económia local eficiênte, social e solidária: os consumidores partilham com o produtor os riscos e os benefícios naturalmente ligados à actividade agrícola. A totalidade da produção é valorizada (nomeadamente sem calibragem nem normas estéticas). O preço da susbcrição é fixado em função dos custos reais de produção e não pelas leis do mercado. A compra em adianado garante ao agricultor um rendimento. As AMAP permitem assim o manter do emprego agricola, e mesmo a implantação de jovens agricultores com menores investimentos e facilitam a passagem dos modos de produção convencional para modos de produção agro-ecológicos. Para os consumidores em dificuldades económicas podem ser estudados arranjos caso a caso.
  • Das ligações sociais, á educação do gosto e do ambiente: o agricultor está presente a cada distribuição da colheita para nos fazer descobrir os seus produtos e o seu oficío. Animações são tambem organizadas na quinta: certas AMAP organizam oficinas de culinária ou de jardinagem. Estas ligações que se criam com a quinta geram uma relação de confiança.
  • Comércio justo local: o preço da subscrição é definido conjuntamente e em transparência entre o agricultor e os consumidores. A compra antecipada garante um rendimento certo ao agricultor e permite-lhe comprar os materais de trabalho sem se endividar.

Em termos de impacto, as AMAP têm actividades ecologicamente sâs, económicamente viáveis, e socialmente justas. Por isso elas participam no desenvolvimento sustentável da região à qual elas se entregam.

Mais informação - http://alliancepec.free.fr/Webamap/

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Novo livro sobre os biocarburantes

“A fome, o carro, o trigo e nós”: uma denúncia dos biocarburantes

O biocarburantes são uma descoberta fantástica, mas para quem?

No mundo inteiro, fábricas e refinarias crescem como cogumelos depois da chuva. O trigo, a colza, o girassol, de cá; a palmeira a oleo, a cana do açucar, a soja ou o milho nos países do sul servem a substituir o petróleo. Os vegetais fabulosos, utlisados desdes os primórdios da agricultura para alimentar os homens, enchem hoje os tanques dos carros e dos camiões.

Fabrice Nicolino decidiu escrever sobre este assunto um panfleto, e de mandar um muro a todos os que pretendem que esta mudança é uma boa notícia, mas também aos ingénuos que acreditam no discurso oficial sobre os novos carburantes, apresentados como «ecológicos». Mas a realidade é ao contrário.

Em França, o lobby da agricultura industrial, activamente apoiado pelo estado, procura depois da reforma europeia de 1992, novos escoamentos das suas produções massivas. O boom dos biocarburantes relança também a máquina dos adubos e dos pesticidas, e destruirá em breve os reservatórios de biodiversidade impostos que são os «pousios».

Em outras partes do mundo é ainda bem pior. Da Indonésia ao Brasil, passando pelos Camarões, as raras florestas tropicais intactas são devastadas para deixar o lugar às novas culturas. A procura indecente do norte, que quer continuar a andar de carro a qualquer preço, faz explodir o preço de certos produtos de base: num mundo que conta perto de mil milhões de pessoas a morrer de fome, o sistema industrial prefere o automóvel ao direito indiscutivel de comer o que se necessita

E o cúmulo é que os biocarburantes não são mesmo nada ecológicos. Eles contribuem e contribuirão sempre mais as mudanças climáticas, como o desmonstram numerosos estudos.

Este pequeno livro desvenda uma mistificação total. E denúncia os aproveitadores, mais numerosos do que se pensa. Pois detrás do automóvel estamos nós.

Fabrice Nicolino - "La faim, la bagnole, le blé et nous: une dénonciation des biocarburants", Fayard, (2007)

domingo, 7 de outubro de 2007

10 conselhos para entrar em resistência através do decrescimento

1- Libertar-se da Televisão

Para entar no decrescimento, a primeira etapa é tomar consciência do nosso condicionamento. O vector principal desse condicinamento é a televisão.
A nossa primeira escolha será libertar-se.Como a sociedade de consumo reduz o humano à sua dimensão económica – consumidor - , a televisão reduz a informação à sua superfície, a imagem. Meio de comunicação da passividade, portanto da submição, ela não pára de reduzir o indivíduo. Por natureza, a TV exige a rapidez, ela não apoia os discursos de fundo. A televisão é poluente na sua produção, na sua utilização e por fim como lixo. Nós preferimos a nossa vida interior, a criação, aprender a tocar instrumentos de música, encenar e assistir a espectaculos vivos...
Para nos informar-mos temos a escolha: da rádio (sem publicidade), da leitura (sem publicidade), do teatro, do cinema (sem publicidade), dos encontros, etc...

2- Libertar-se do automóvel

Mais que um objecto, o automóvel é um simbolo da sociedade de consumo.
Reservado aos 20% dos habitantes mais ricos do planeta, ele conduz inexoravelmente ao suicídio ecológico pelo esgotamento dos recursos naturais (necessários á sua produção) ou pelas poluições multiplas que, entre outras, levam ao aumento do efeito de estufa. O automóvel provoca guerras pelo petróleo das quais a última data do conflito iraquiano. O carro tem também como consequência uma guerra social que conduz a uma morte todas as horas apenas em França (em Portugal também!). O automóvel é uma das epidemias ecológicas e sociais da nossa era.
Nós preferimos: a recusa da hipermobilidade, a vontade de morar perto do nosso local de trabalho, caminhar, a bicicleta, o comboio, os transportes públicos.

3- Recusar apanhar o avião

Recusar apanhar o avião, é primeiro que tudo romper com a ideologia dominante que considera como um direito inabalável a utilização deste meio de transporte.
No entanto, menos de 10% dos humanos já apanharam o avião. Menos de 1% o apanha todos os anos. Esses 1%, a classe dominante, são os ricos dos países ricos. São estes mesmos que possedem os medias e que fixam as normas sociais. O avião é o meio de transporte o mais poluente por pessoa transportada. Devido á sua rapidez ele artificializa a nossa noção de distância.
Nós preferimos ir menos longe, mas de melhor forma, a pé, de carroça, de bicicleta ou de comboio, de barco á vela, com todos os transportes não motorizados.

4- Libertar-se do Telemóvel

O sistema gera necessidades que se tornam dependências. O que é artificial torna-se natural. Como muitos dos objectos da sociedade de consumo, o telefone é uma falsa necessidade criado artificialmente pela publicidade. “Com o telemóvel é contactavel a qualquer momento”. Com o telemóvel nós deitamos fora também os micro-ondas, as máquinas de cortar relva e todos os objectos inúteis da sociedade de consumo.
Nós preferimos ao telemóvel o telefone fixo, o correio, a palavra, mas sobretudo nós queremos existir por nós próprios em vez de tentar esconder o vazio existêncial com objectos.

5- Boicotar a grande distribuição

A grande distribuição é indissociavel do automóvel. Ela des-humaniza o trabalho, ela polui desfigura as cidades, ela mata os centros das cidades, ela favoriza a agricultura intensiva, ela centraliza o capital, etc. A lista de epidemias que ela representa é demasiado longa para ser enumerada aqui.
Nós preferimos: antes de mais consumir menos, a autoprodução alimentar (hortas), o comércio local, os mercados, as cooperativas, o artesanato.
Todo isto nos levará a consumir menos e a recusar os produtos manufacturados.

6- Comer pouca carne

Ou melhor, comer vegetariano. A condição reservada aos animas de criação revela a barbarie tecnociêntifica da nossa civilização. A alimentação carnivora é também uma problemática grave ecológica. Mais vale comer directamente os cereais que utilizar terras agricolas para alimentar animais destinados ao matadouro. Comer vegetariano ou menos carne deve ser também ir de encontro a uma melhor higiene alimentar, menos rica em calorias.

7- Consumir localmente

Quando compramos uma banana das Antilhas, consumimos também o petróleo necessário à sua travessia até aos países ricos. Produzir e consumir localmente é uma das condições essenciais para entrar no decrescimento, não num sentido egoísta, claro, mas ao contrário para que cada povo encontre novamente a sua capacidade de autosuficiência. Por exemplo, quando um camponês africano cultiva cacau para enriquecer alguns dirigentes corruptos, ele não cultiva seja o que fôr para se alimentar e para alimentar a sua comunidade.

8- Politizar-se

A sociedade de consumo deixa-nos a escolha: entre a Pepsi-Cola e a Coca-Cola ou entre o café Delta ou o café de comércio justo Max Havelaar. Ele permite-nos a escolha de consumidores. O mercado não é nem de direita, nem de centro nem de esquerda: ele impõe a ditadura finnceira com o objectivo de recusar todos os debates contraditórios e todos os conflitos de ideias. A realidade é a ecónomia: aos humanos de se submeterem. Este totalitarismo é paradoxalmente imposto em nome da liberdade de consumir. O estatuto de consumidor é considerado superior ao de humano.
Nós preferimos politizarmos-nos, como pessoa, em associações, em partidos, para combater a ditadura das empresas. A democracia exige uma conquista permanente. Ela morre quando é abandonada pelos cidadãos. É tempo de lhes levar as ideias do decrescimento.

9- Desenvolvimento pessoal

A sociedade de consumo precisa de consumidores servis e submissos que não desejam mais ser seres humanos por inteiro. O que eles apenas conseguem graças ao embrutecimento, por exemplo, em frente da TV, pelos “lazeres” ou pelo consumo de neurolepticos (Prozac...).
Pelo contrário, o decrescimento económico tem como condição um deslumbramento social e humano. Enriquecer-se ao desenvolver a vida interior. Priveligiar a qualidade das relações consigo e com os outros em deterimento da vontade de possuir objectos que nos possedem... Procurar viver em paz, em harmonia com a natureza, e não ceder à sua própria violência, ai está a verdadeira força.

10- Coerência

As ideias são feitas para serem vividas. Se não somos capazes de as pôr em prática, elas terão apenas como função fazer brilhar o nosso ego. Nós estamos todos sujeitos ao compromisso, mas tentaremos ter o máximo de coerência. É a condição da credibilidade do nosso discurso. Mudemos e o mundo mudará.
Esta lista não é certamente exaustiva. A vós de a completar. Mas se não procurar-mos esta necessidade de coerência, seremos condenados a viver muito hipocritamente as consequências dos nossos modos de vida. Claro que não existe forma de vida pura na terra. Nós vivemos todos no compromisso e está bem assim.

Pelos Casseurs de Pub (publicidade)

O Decrescimento?

O decrescimento é um slogan. É tambem um conceito que nos obriga a todos a tomar consciência dos limites fisicos do planeta aos quais nós nos confrontamos. Ele obriga-nos a pôr em causa a nossa noção de conforto, de necessidade.

O decrescimento não é uma ideologia, é uma necessidade absoluta: depois de dois séculos, o colonialismo, a revolução industrial, o urbanismo, o recurso ás energias fosséis, o desenvolvimento frenético e a utilização da quimica, da fisica e da biologia, aceleraram consideravelmente os danos cometidos ao meio natural. Mas foi sobretudo depois da segunda guerra mundial que os problemas de ordem ecológica tomam uma escala planetária. A ajuda ao “desenvolvimento” dos países pobres vem justificar um crescimento económico cada vez mais forte e faz nascer a “sociedade de consumo”.

Todo o acto de consumo é um acto de destruição: a extração de energia e de matérias primas, à partida; acumulação de lixo, à chegada. As contas feitas á ecologia são catastróficas: mudanças climáticas, desflorestação, desaparecimento das águas doces, degradação dos solos, perda da biodiversidade, poluição quimica, nuclear, acumulação de residuos, esgotamento dos recursos não renováveis. O crescimento, indispensável á sobrevivência do capitalismo, conduz-nos a um impasse. Só o decrescimento, ou seja a adopção de modos de vida, de habitação, de transporte, de consumo muito mais económicos em recursos naturais, podem abrir novas perspectivas.

Mas o decrescimento não se limita aos aspectos ecológicos. É igualmente uma reflecção sobre o aspecto económico e social da produção, do consumo e da distribuição das riquezas, tal como uma crítica da ideoloia do progresso, da industrialização das técnicas e do cientismo.

O decrescimento não será o «retorno à luz da vela», esse bicho papão que alguns proclamam para salvaguardar o lucro capitalista. Ele será, pelo contrário, a ocasião de tomar consciência que a felicidade não se mede por volume e produção, que é mudança dos valores humanos essenciais (respeito, tolerância, solidariedade), a perda do sentido (quer no trabalho quer na vida em geral) que nos leva à bulimia do consumo de bens materais. Ele pode ser, para o homem, a oportunidade a não perder de construir uma outra sociedade, de desenvolver práticas e experiências baseadas na autonomia, na creatividade, na solidariedade e na convivialidade.

O decrescimento é também ir contra, desde hoje, ao sistema capitalista, industrial e espectacular. É um grão de areia na engrenagem da mega- máquina. Um grão de areia entre tantos outros, de forma a dar cabo deste sistema, minimizando a violência. O decrescimento, não é apenas um conceito, é também e sobretudo práticas a adoptar, aqui e agora: viver de outra forma (squats, ecoaldeias...), produzir de outra forma, consumir de outra maneira, etc. O máximo de vias que podemos seguir concretamente hoje sem chegar a uma hipotética «greve geral». Mas atenção, em separado, cada uma dessas práticas isoladas podem ser recuperadas pelo sistema, tanto como o isolamento destas experiências e alternativas podem levar ás rasteiras das comunidades sectárias e utópicas. Para evitar esse perigos a crítica anti-capitalista, anti-industrial e anti-autoritária como do feudalismo é necessária.

Como o decrescimento é uma necessidade cada vez mais urgente, a escolha não é entre o decrescimento ou o crescimento, mas entre uma sociedade libertária onde a população pratica em harmonia o decrescimento ou uma sociedade onde medidas draconianas serão impostas por governos autoritários!

Construemos um outro presente! Grupo Marée Noire

Editorial de Pétroleur nº 5, revista do grupo Marée Noire, Abril 2005